segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Cuidar do recém-nascido será inato ou adquirido?

A gravidez desperta no seio familiar uma variedade imensa de sentimentos e dúvidas... "Serei bom pai/ boa mãe? Será parecido comigo? Serei capaz de tomar conta de um ser tão frágil e indefeso? " Inúmeras perguntas surgem na cabeça de pais e família, sem muitas vezes serem partilhados.

Bem cedo, ainda antes do nascimento, os futuros pais sonham com o bebé desejado. Antes da gravidez imaginam um ser que ainda não foi concebido, o bebé "fantasmagórico". Durante a gravidez é idealizado o "bebé imaginário", que corresponde ao que os pais esperam do bebé. No momento do nascimento dá-se o confronto de todas estas imagens com o "bebé real"1, acontece o primeiro encontro "É ele, finalmente nasceu!!!". Inconscientemente, a imaginação e a realidade colidem, exigindo uma adaptação ao “bebé real”.

Após o nascimento, a adaptação ao “bebé real” acontece juntamente com um turbilhão de sentimentos e alterações: a modificação das rotinas, o cansaço, a modificação corporal, a falta de sono, o stress dos cuidados ao bebé e também as alterações hormonais. As mães, com tudo isto, tendem a sofrer uma grande variação de estado de espirito, sentem-se apoderadas por um leque de sentimentos, "tanto se encontram num momento felizes, alegres e contentes, como no minuto seguinte começam a chorar sem causa aparente;  ora estão ansiosas, cansadas, tristes ou melancólicas e sem interesse pela vida; ora com falta de apetite, com sentimentos de culpa pelo que se está a passar e não conseguem reagir; olham para os bebés e não lhes conseguem tocar com medo de os magoar. "2 "Então e o instinto? Não deveria saber cuidar do meu filho, sentir o que ele precisa? ". 

Não é de hoje que no senso comum se considera que após o nascimento há no instinto um fundamento para o cuidado ao recém-nascido. "Mas o que será isso do instinto? ", "Será que sou má mãe?", "Se se trata de algo instintivo o meu instinto está adormecido…". De facto há mães que dizem sentir o  que fazer em determinadas situações, outras dizem que logo após o nascimento sentiram um amor incondicional, uma alegria inexplicável, no entanto nada disto é regra ou simplesmente adquirido. Cuidar de um bebé não é algo que seja inato, há muito que aprender, há que conhecer e explorar. “Os pais que o são pela primeira vez têm dúvidas e problemas universais: “Como é que alguma vez aprenderemos a ser pais? Teremos que ser como eram os nossos?”"3.

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                                                                                                                                                Imagem: www.hypescience.com               
                                                                                                                                                                                     
1. Baptista, Ana Catarina (et all). Vivenciar a morte nas crianças e adolescentes com patologia oncológica. Informar 20 (2000) 33-37.
2. Pinheiro, Luís. Manual para pais, Ebbo edições, 2010. 
3. Brazelton, T. Berry. O grande livro da criança, 13.ª Edição, Lisboa, 2013.
 
 
 

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