Efetivamente é importante ter em conta que a composição dos alimentos que a mãe ingere passam, em parte, para o leite materno e desta forma vão influenciar as suas caraterísticas, nomeadamente o seu sabor. Para além disso, tendo em conta que a flora intestinal do recém-nascido ainda é imatura, sofre influências de acordo com a alimentação materna refletindo-se por exemplo nas cólicas. Estes dois factos por si só devem ser tidos em conta para que a mãe esteja atenta à reação do bebé de acordo com aquilo que comeu previamente, mas não significa que não coma logo à partida por pensar que vai fazer mal ao bebé sem ter experimentado.
Sabe-se que existem alimentos como o tomate e os citrinos
(laranja, tangerina, etc.) que podem tornar as fezes mais ácidas causando
vermelhidão na região do anús e algumas leguminosas como o grão e o feijão
podem causar alterações no trânsito intestinal. Alimentos mais alérgenos como
morango, chocolate ou marisco podem causar alergia ao bebé surgindo manchas no
seu corpo. No entanto, os estudos científicos realizados até à data não
comprovaram que estes alimentos são prejudiciais para o bebé quando ingeridos
em quantidade moderada1.
Os alimentos mais condimentados, com sabor mais intenso como
com caril ou açafrão, intensificam o sabor do leite pelo que pode notar que o recém-nascido
gosta ou não destas influências, apreciando mais ou menos o seu leite. Podem
também causar alterações intestinais e causar uma vermelhidão na região do ânus
na sequência da alteração da constituição das fezes, que pode aparecer um a
dois dias depois da ingestão do leite. A ingestão destes condimentos
por parte da mãe não está, no entanto, contraindicada.
Há quem acredite, sobretudo em algumas culturas, que alguns
alimentos como o bacalhau ou a cerveja preta sem álcool podem aumentar a
produção de leite no entanto não existem, até à data, estudos que comprovem esse
efeito1.
Diversifique a sua alimentação! Atualmente sabe-se que o
contacto do recém-nascido com os diferentes sabores relacionados com a
diversidade de alimentos ingeridos pela mãe influência de forma positiva o
sucesso aquando da diversificação alimentar do bebé. Este estará mais bem
preparado para aceitar um conjunto de novos sabores que vai conhecer pela
primeira vez quando aos 4 ou 6 meses de vida começar a comer as papas e sopas.
Alimentos com baixo valor nutricional, como o café,
chocolate, doces, bebidas gaseificadas, alcoólicas e com cafeina fazem parte de
um grupo de alimentos inadequados do ponto de vista nutricional e que devem ser
evitados não só pela mãe que amamenta mas também durante qualquer outra fase da
vida1.
O café por exemplo, tão apreciado pela maioria das pessoas,
é estimulante e pode influenciar o comportamento do bebé e o seu trânsito
intestinal. Se tem de beber café para se sentir melhor tente reduzir ao máximo
o consumo e faça-o logo após amamentar e de preferência de manhã até à hora do
almoço para que não interfira com o período noturno. Atenção ao consumo de álcool
assim como outras adições que trazem consequências nefastas ao sistema nervoso
central e ao desenvolvimento do recém-nascido.
Deve também ter em atenção medicamentos (mesmo de venda
livre) e antibióticos porque a maioria é incompatível com a amamentação e é
prejudicial para o bebé. O importante é informar sempre o seu médico ou um
profissional qualificado que está a amamentar para que este prescreva ou
recomende medicação compatível com a amamentação.
Nada de dilemas! Simplifique! O importante é ter uma
alimentação saudável, diversificada e equilibrada, sem evicção à partida de
qualquer alimento específico. Não existem alimentos proibidos para a mãe que
amamenta, tudo depende da reação do seu bebé e isso vai percebendo ao longo do
tempo, à medida que o vai conhecendo melhor. Não necessita de comer por dois,
coma o suficiente para se sentir saciada e beba cerca de 1,5 litros de água por
dia.
Esqueça as crenças e mitos e acredite numa alimentação saudável!
★★
1Ferreira, R. et al, Amamentação e a dieta materna. Influência de mitos e preconceitos, Acta Pediátrica Portuguesa 2010; 41(3): 105-10.