segunda-feira, 31 de março de 2014

Como armazenar e descongelar o leite materno?

Mas o que fazer ao leite depois de extraído? Onde o devo colocar? Durante quanto tempo pode ficar congelado? E para descongelar, posso usar o micro-ondas? De facto o processo de armazenamento e conservação do leite materno levanta muitas dúvidas.

Armazenar e descongelar o leite materno são procedimentos com regras que devem ser cumpridas para que se garanta que as características do leite são mantidas e que o bebé o receba com todos os seus benefícios.
Como armazenar o leite materno?
Depois de extraído o leite materno pode ser conservado no frigorífico ou no congelador em recipientes próprios estéreis que conservam as suas características em pleno. De seguida apresentamos um conjunto de dicas fundamentais para o armazenamento do leite:

·  Conserve as pequenas porções já individualizadas para que quando tenha de o descongelar não haja desperdício de leite;
·  Não coloque o leite na porta do frigorífico pois a variação da temperatura pode comprometer sua a estabilidade;
·  O leite pode ser congelado mesmo que permaneça 48h no frigorífico;
·  Nunca junte leite recém-extraído ainda morno ao leite já frio ou congelado;
·  Identifique os recipientes e registe a data de cada congelação;
· Se possível reserve uma zona do congelador só para o leite, caso contrário mantenha-o e aos outros alimentos em caixas fechadas individualizadas;
·  De acordo com o local onde é conservado, o leite tem maior ou menor validade com tempos específicos de conservação:
·  Caso necessite de transportar o seu leite deve utilizar um saco térmico com uma placa de gelo.

Como descongelar o leite materno?
Quando precisa de utilizar o leite congelado estes são os passos que deve seguir para o descongelar:

· Use em 1º lugar o leite guardado há mais tempo;
· Prefira uma descongelação lenta dentro do frigorífico em vez de à temperatura ambiente;
· O leite materno quando descongelado deve ser consumido nas 24h seguintes e não o deve voltar a congelá-lo;
· Não use o micro-ondas para descongelar ou amornar o leite humano uma vez que este não o aquece de forma homogénea e pode destruir ou alterar as suas propriedades;
·  Se tiver mesmo que acelerar a descongelação pode colocar o recipiente sob água corrente mas esse leite será válido apenas para consumo imediato;
· Se sobrar leite amornado deverá desperdiça-lo.
Quando o leite está totalmente descongelado pode ficar com um aspeto cremoso e espesso no cimo e aquoso em baixo, pelo que antes de ser consumido deve ser suavemente homogeneizado até que as duas partes se misturem. O leite materno pode ser oferecido ao bebé à temperatura ambiente ou após ser ligeiramente amornado em banho-maria.

O leite materno é um bem precioso e porque não conservá-lo para usar mais tarde quando necessário? Já tinha pensado sobre isso? Nestas últimas duas publicações demos-lhe todas as dicas para o fazer em segurança e garantir que está a oferecer o melhor ao seu bebé.
★★  
Fonte: Folheto DGS "Extracção e conservação do leite materno"  consultado em www.dgs.pt/ficheiros-de.../aleitamento-materno-anabela-lopes-pdf.aspx
 


segunda-feira, 24 de março de 2014

Extração e recolha do leite materno

A mãe pode recorrer à extração ou recolha de leite em várias circunstâncias. As situações como o ingurgitamento mamário ou os problemas com os mamilos exigem cuidados especiais e consideramos que devem ser acompanhados de perto e de forma personalizada por um profissional especializado, motivo pelo qual não serão abordadas. O nosso intuito com esta publicação é promover o conforto da mãe e do bebé e permitir que possa utilizar o leite materno extraído ou recolhido em situações futuras específicas.

Enquanto está a amamentar o seu filho, só o simples facto de estar perto dele, de o ver, ouvir, sentir e cheirar, faz com que o seu organismo inicie de uma forma espontânea uma série de processos hormonais que começam a suceder-se e naturalmente o leite da mama em que não está a amamentar começa também a sair. Nestas situações os discos protectores são muito utilizados, no entanto, hoje em dia existem recipientes que estando esterilizados podem ser adaptados à mama e permitem recolher o leite que pinga e que na maioria das vezes não é aproveitado.
Quando a produção de leite é grande, os discos de proteção acabam por se manter constantemente húmidos criando um ambiente propício a lesões do mamilo e em caso de lesões já existentes  dificultam a cicatrização das mesmas. Actualmente existem recipientes em forma de concha, que facilmente se adaptam mantendo o mamilo livre e permitem a recolha do leite que vai saindo da mama. Este leite só deve ser aproveitado caso saiba que não permaneceu mais de duas horas dentro da concha.

Nos primeiros dias quando a produção de leite ainda não está ajustada ao seu bebé e o seu organismo produz mais leite do que é necessário pode ser necessário extrair uma pequena quantidade de leite para que se sinta mais confortável e para que o seu bebé se adapte mais facilmente à mama. A mama muito cheia está tensa e os ductos podem ficar bloqueados dificultando a saída de leite e a adaptação do bebé. Nestas situações pode realizar extracção de uma pequena quantidade de leite manualmente, a necessária para se sentir confortável com a mama menos tensa e para que o bebé consiga  adaptar-se mais facilmente.
O leite extraído pode e deve ser aproveitado! Recolha-o para um recipiente esterilizado para que o possa conservar e mais tarde oferece-lo ao seu bebé. Deve começar por lavar muito bem as mãos, instalar-se confortavelmente, relaxar, beber algo morno/quente, aplicar compressas mornas sobre a mama e estar perto do seu bebé. Comece por massajar suavemente a mama em movimentos circulares da zona mais afastada até ao mamilo, caso tenha disponível utilize creme de manteiga de cacau, muito aconselhado para o efeito. Esta etapa inicial permite que os canais por onde o leite passa desbloqueiem e permitam a sua passagem e saída durante a extração manual. Reunidas todas estas condições comece por fazer um “C” com mão colocando o polegar acima da aréola e o indicador abaixo, mantenha a mama pressionada contra as suas costelas e pressione com o polegar e o indicador ao mesmo tempo. Em seguida alivie a pressão, volte a pressionar e volte a aliviar repetindo estes passos num movimento rítmico, desta forma consegue extrair o seu leite.

Este leite deverá ser armazenado e conservado de forma adequada para que possa vir a ser oferecido ao bebé caso a mãe reinicie a atividade laboral precocemente ou tenha de se ausentar permitindo que este seja alimentado com leite materno usufruindo de todos os seus benefícios.

★★

 
Fonte: Folheto DGS "Extracção e conservação do leite materno"  consultado em www.dgs.pt/ficheiros-de.../aleitamento-materno-anabela-lopes-pdf.aspx
 

segunda-feira, 17 de março de 2014

Como saber se o bebé ficou satisfeito depois de mamar?

Uma das dúvidas mais frequentes das mães que amamentam é saber se o bebé ficou satisfeito depois de mamar. “Como é que eu sei que o bebé mamou o suficiente?”, “Será que está a passar fome?” “Mas será que ficou satisfeito?” Estas são das perguntas mais repetidas e transversais a praticamente todas as mães.

Ao contrário da alimentação por biberão, a amamentação não permite controlar a quantidade exata do leite que o bebé consegue ingerir. “O ideal seria que a mama tivesse um contador que contabilizasse a quantidade de leite produzida e a quantidade que o bebé mama!” Pois é, seria ótimo mas a natureza não programou o organismo para tal e o processo é bastante mais natural que isso.
Existem vários aspetos que as mães podem ter em conta para conseguirem dormir descansadas com a certeza de que o bebé está satisfeito.
Tempo do bebé à mama
Em primeiro lugar é importante desmistificar a questão de que o bebé tem de mamar 20, 30 ou 35 minutos. O que é errado! Alguns bebés só mamam 5 minutos e ficam satisfeitos. Bebés mais sonolentos provavelmente demoram mais tempo do que os bebés mais ativos e com vontade de mamar. Assim entende-se que existem vários fatores que interferem com o tempo que o bebé demora a mamar como: a atividade do bebé, a capacidade que ele tem para fazer uma adaptação adequada à mama e ainda a própria produção de leite materno. Efetivamente é importante controlar o tempo da mamada mas principalmente porque um bebé que está 40/45 minutos ou mais à mama pode estar a fazê-la de chucha o que não traz qualquer benefício.

Horário livre e quantidade livre
O bebé amamentado deve mamar em horário e quantidade livre. O que é que isto significa? Pode mamar agora e daqui a 2 horas reclamar novamente com fome. Provavelmente mamou uma menor quantidade e acabou por reclamar mais cedo. Também pode acontecer o seu bebé não acordar para mamar e aí deve ter atenção e não o deixar dormir mais do que 3 horas sobretudo nos primeiros dias de vida. Alguns bebés mais sonolentos podem não acordar o que não significa que os deixemos dormir. Dormir é importante mas ser alimentado também!

Mama tensa versus mama mole
Mas há mais aspetos a ter em conta para avaliar o sucesso da mamada. A mama em que o bebé mamou tem de estar mais leve e menos tensa no final em relação ao início da mamada, podendo até considerar-se que está “vazia”, isso significa que o bebé mamou e é natural que esteja saciado. Mesmo que o bebé esteja 45 minutos à mama se ela continuar igualmente tensa significa que o seu bebé não mamou.

Quantidade de urina e fezes
Olhe para a fralda do seu bebé e veja se tem muita ou pouca urina e controle minimamente a quantidade e cor das fezes. Um bebé que está a ser devidamente alimentado urina bem, uma urina amarela clara. As fezes são normalmente amarelas em forma de grânulos e deve produzir 4 a 5 vezes por dia. Estes são indicadores muito importantes a reter.

Controlo do peso
Para além disso o controlo do peso é fundamental. Não precisa de ter uma balança em casa, nem precisa de pesar o bebé todos os dias pois não vai saber interpretar o aumento de peso e a sua importância, no entanto, deve fazer esse controlo no centro de saúde ou com o seu pediatra de acordo com a sua recomendação. Se o bebé está a aumentar de peso de acordo com o esperado significa que está a ser bem alimentado.

Bebé feliz, confortável e dorme bem
Não se esqueça que o seu bebé pode chorar por outro motivo que não seja fome mas ele está feliz, confortável e dorme bem então está a ser bem alimentado. Descanse e desfrute!



segunda-feira, 10 de março de 2014

Posicionamento do bebé à mama

Na última publicação falamos sobre adaptação do bebé à mama e que sinais devemos observar para termos a certeza de que o bebé está a mamar. No entanto, para conseguirmos que este processo seja um êxito devemos criar um conjunto de condições.

Antes de colocar o bebé à mama deve promover um ambiente tranquilo, evitar locais ou situações que lhe possam causar stress. O bebé sente as suas inseguranças e ansiedade, tente descontrair, os seus sentimentos podem influenciar a sua predisposição para mamar. Lembre-se também que irá passar grande parte do seu dia a amamentar e a cuidar do bebé por isso adquira uma posição correta e confortável. Se optar por amamentar sentada escolha uma cadeira/ sofá onde tenha um bom apoio para as costas mantendo-as direitas e não se esqueça que os braços e pés também devem estar apoiados. Manter as costas direitas é sem dúvida fundamental por isso adeque a altura do bebé em relação à mama com almofadas, aproximando o bebé da mama e não o inverso.
Desde que se garanta uma adaptação à mama adequada e o conforto da mãe e do bebé estejam assegurados existem várias posições possíveis e nenhuma delas é mais válida que a outra, apenas em algumas situações específicas existem umas mais recomendadas que outras.
A maioria das mães portuguesas e em grande parte do Mundo preferem amamentar sentadas, na chamada posição tradicional em que o bebé é deitado com a cabeça virada para o lado em que vai mamar. Não significa que esta seja a mais adequada para o seu bebé. Experimente as outras e saberá!

 No caso de mães com bebés prematuros ou pequenos a posição tradicional invertida pode ser útil para facilitar a pega uma vez que a mãe fica com uma mão completamente livre para segurar e posicionar a mama e o bebé de acordo com as necessidades. É também preferido por muitas mães submetidas a cesariana pois o bebé não toca na região abdominal. Uma das grandes vantagens desta posição é permitir o esvaziamento da região da mama abaixo da axila, isto porque o não esvaziamento desta zona é causa é frequentemente de bloqueio dos canais por onde o leite passa o que pode causar vários problemas na mama.


 Pode parecer estranha esta posição em que o bebé fica como que sentado de frente para a mãe no entanto, tanto uma como outra são posições aconselhadas para bebés sonolentos e que têm dificuldade em manter uma pega eficaz, a primeira para o recém-nascido e a segunda para bebés maiores. Nesta posição, o recém-nascido não se sente tão aconchegado e quente e por isso fica mais tempo desperto e disposto a mamar.


 
 
 
 
 
A posição de deitada é muitas vezes eleita numa fase ainda de pós parto (normal ou cesariana) e também no período noturno. Para tornar a posição mais confortável, poderá apoiar a sua cabeça com 2 almofadas, evite apoiar sobre o cotovelo pois irá sentir o braço cansado. Não se esqueça de pensar em si e no seu conforto! Para evitar que o bebé se vire pode colocar um rolinho atrás das suas costas. Por ser uma posição tão confortável a mãe pode adormecer mais facilmente por isso certifique-se que o bebé não corre o risco de cair ou mesmo da mãe ficar sobre ele. É importante relembrar que o bebé deve dormir na sua própria cama!
Esta posição é ótima em caso de gémeos permitindo que sejam amamentados em simultâneo. Deverá colocar uma almofada grande debaixo das suas cabeças para que fiquem à altura da mama e as suas mãos devem ficar livres para apoiar as costas de cada um deles.

Durante os primeiros dias experimente as várias posições que propomos ou até outras que lhe pareçam confortáveis. Poderá variar a posição do bebé de mamada para mamada o que até pode ser benéfico porque permite mais facilmente que o bebé receba o leite produzido em diferentes zonas da mama. No caso do bebé conseguir esvaziar a mama por completo sem mudar de posição, não o faça pois não é necessário.
 Se encontrou a posição ideal para ambos, ótimo!  A amamentação deve ser um momento prazeroso e agradável para a mãe e para o bebé.
★★

quinta-feira, 6 de março de 2014

A adaptação do bebé à mama da mãe passo a passo

Como temos visto ao longo das últimas publicações existem vários fatores que contribuem para o sucesso da amamentação. A adaptação do bebé à mama quando pouco eficaz é uma das maiores e mais importantes dificuldades que podem condicionar significativamente o êxito da amamentação1.

Uma correta adaptação do bebé à mama permite que este consiga extrair o leite com menos esforço e aumenta significativamente a segurança da mãe e o seu conforto. Lembra-se quando dissemos que nos primeiros dias muitas mães pensam não ter colostro suficiente? A quantidade de leite é na maioria das vezes a suficiente, no entanto, o bebé não faz uma pega adequada e eficaz e consequentemente não consegue extrair o leite necessário para se satisfazer. A pega adequada do bebé à mama é mais confortável para a mãe tornando o momento mais prazeroso e prevenindo alguns dos problemas graves que podem surgir no decorrer da amamentação, como as gretas ou o ingurgitamento mamário.
Quando a pega é correta o bebé deve mamar não só no mamilo mas também na aréola, sendo o mamilo apenas uma terça parte do tecido em que o bebé mama2. Quando a adaptação do bebé à mama não é bem-feita a mãe sente dor o que não é suposto. Pode sentir dor quando o bebé inicia a sucção mas ao longo dos primeiros minutos essa dor dissipa-se, se mantiver dor durante a amamentação não considere normal, consulte um profissional habilitado, provavelmente está a necessitar de ajuda.
1.ª O bebé deve ser virado para a mãe ficando barriga com barriga, mantendo a cabeça sobre o seu antebraço de forma a ficar direita e alinhada com o resto do corpo e não com a cabeça virada de lado;

2.º Coloque o bebé com o nariz ao nível do mamilo, aproximando-o da mama a partir da parte debaixo do mamilo;

3.º Toque com o mamilo nos lábios do bebé. Quando alguma coisa toca nos lábios ou bochechas do bebé ele abre a boca e desvia-a procurando o que lhe tocou, trata-se do reflexo de busca;
4.º Espere até que o bebé abra bem a boca espontaneamente, sem forçar;
5.º Nessa altura aproxime o bebé rapidamente da mama e direcione o mamilo para o palato do bebé o que fará com que ele inicie a sucção e quando estiver a boca cheia ele deglute;
6.º O queixo do bebé encosta à mama. O nariz deve ficar livre mas pode encostar, depende do tamanho do bebé e do tamanho da mama.
7.º O lábio inferior está virado para fora e vê-se mais a aréola da parte de cima do que a de baixo.
8.º Pode-se ver e ouvir a deglutição.
 
Todo este processo pode parecer quase instintivo, no entanto exige que haja aprendizagem por parte da mãe e do bebé. Pegar no bebé, posicioná-lo e conduzi-lo para uma adaptação à mama eficaz pode não ser fácil e comprometer o êxito da amamentação. Esteja atenta e peça ajuda sempre que necessário para que se sinta segura, confiante e acredite no sucesso da amamentação.
Reveja este vídeo que esquematiza passo a passo a adaptação do bebé à mama.

http://www.youtube.com/watch?v=DQj-Mn0c370

★★


1 Levy, Leonor; Bértolo, Helena; Manual de Aleitamento Materno, Edição Revita 2008; Comitê Português para a UNICEF/Comissão Nacional.
2Brito, H. et al, Experiência do aleitamento materno, Acta Pediátrica Portuguesa 2011; 42(5): 209-14.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

O dilema da alimentação da mãe e a amamentação

Durante a amamentação surgem inúmeras dúvidas. Algumas delas relacionadas com a influência que os alimentos que a mãe ingere têm no bebé. “Alergias? Cólicas? Será que o que eu como é o melhor para o meu bebé?”. Dúvidas como estas fazem com que as mães modifiquem a sua dieta na tentativa de aumentar a qualidade e quantidade do leite materno produzido para promover o ótimo crescimento e desenvolvimento do seu filho. Estas alterações da dieta são, na sua maioria, baseadas em mitos e crenças e não em evidência científica1 

Efetivamente é importante ter em conta que a composição dos alimentos que a mãe ingere passam, em parte, para o leite materno e desta forma vão influenciar as suas caraterísticas, nomeadamente o seu sabor. Para além disso, tendo em conta que a flora intestinal do recém-nascido ainda é imatura, sofre influências de acordo com a alimentação materna refletindo-se por exemplo nas cólicas. Estes dois factos por si só devem ser tidos em conta para que a mãe esteja atenta à reação do bebé de acordo com aquilo que comeu previamente, mas não significa que não coma logo à partida por pensar que vai fazer mal ao bebé sem ter experimentado.
Sabe-se que existem alimentos como o tomate e os citrinos (laranja, tangerina, etc.) que podem tornar as fezes mais ácidas causando vermelhidão na região do anús e algumas leguminosas como o grão e o feijão podem causar alterações no trânsito intestinal. Alimentos mais alérgenos como morango, chocolate ou marisco podem causar alergia ao bebé surgindo manchas no seu corpo. No entanto, os estudos científicos realizados até à data não comprovaram que estes alimentos são prejudiciais para o bebé quando ingeridos em quantidade moderada1.
Os alimentos mais condimentados, com sabor mais intenso como com caril ou açafrão, intensificam o sabor do leite pelo que pode notar que o recém-nascido gosta ou não destas influências, apreciando mais ou menos o seu leite. Podem também causar alterações intestinais e causar uma vermelhidão na região do ânus na sequência da alteração da constituição das fezes, que pode aparecer um a dois dias depois da ingestão do leite.  A ingestão destes condimentos por parte da mãe não está, no entanto, contraindicada.
Há quem acredite, sobretudo em algumas culturas, que alguns alimentos como o bacalhau ou a cerveja preta sem álcool podem aumentar a produção de leite no entanto não existem, até à data, estudos que comprovem esse efeito1.
Diversifique a sua alimentação! Atualmente sabe-se que o contacto do recém-nascido com os diferentes sabores relacionados com a diversidade de alimentos ingeridos pela mãe influência de forma positiva o sucesso aquando da diversificação alimentar do bebé. Este estará mais bem preparado para aceitar um conjunto de novos sabores que vai conhecer pela primeira vez quando aos 4 ou 6 meses de vida começar a comer as papas e sopas.
Alimentos com baixo valor nutricional, como o café, chocolate, doces, bebidas gaseificadas, alcoólicas e com cafeina fazem parte de um grupo de alimentos inadequados do ponto de vista nutricional e que devem ser evitados não só pela mãe que amamenta mas também durante qualquer outra fase da vida1.
O café por exemplo, tão apreciado pela maioria das pessoas, é estimulante e pode influenciar o comportamento do bebé e o seu trânsito intestinal. Se tem de beber café para se sentir melhor tente reduzir ao máximo o consumo e faça-o logo após amamentar e de preferência de manhã até à hora do almoço para que não interfira com o período noturno. Atenção ao consumo de álcool assim como outras adições que trazem consequências nefastas ao sistema nervoso central e ao desenvolvimento do recém-nascido.
Deve também ter em atenção medicamentos (mesmo de venda livre) e antibióticos porque a maioria é incompatível com a amamentação e é prejudicial para o bebé. O importante é informar sempre o seu médico ou um profissional qualificado que está a amamentar para que este prescreva ou recomende medicação compatível com a amamentação.
Nada de dilemas! Simplifique! O importante é ter uma alimentação saudável, diversificada e equilibrada, sem evicção à partida de qualquer alimento específico. Não existem alimentos proibidos para a mãe que amamenta, tudo depende da reação do seu bebé e isso vai percebendo ao longo do tempo, à medida que o vai conhecendo melhor. Não necessita de comer por dois, coma o suficiente para se sentir saciada e beba cerca de 1,5 litros de água por dia.
Esqueça as crenças e mitos e acredite numa alimentação saudável!
★★


1Ferreira, R. et al, Amamentação e a dieta materna. Influência de mitos e preconceitos, Acta Pediátrica Portuguesa 2010; 41(3): 105-10.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

A magia do leite materno

O leite artificial em pó é sempre igual, tem sempre as mesmas caraterísticas, aquelas que vêm no rótulo. O leite materno apresenta caraterísticas diferentes do início ao fim da mamada, bem como ao longo do crescimento do recém-nascido. Esta magia confere ao recém-nascido todos os benefícios de que já falamos. O leite materno é mágico!

Nos primeiros dias após o parto a mãe produz o primeiro leite, o colostro. Muitas pensam que aquelas gotinhas de uma substância amarela e espessa ainda não é leite mas sim uma “aguadilha” não suficiente para satisfazer as necessidades do bebé. Há que relembrar que no primeiro dia de vida, o estômago do bebé tem o tamanho de uma cereja com capacidade para 5 a 7ml. Este primeiro leite é rico em proteínas e anticorpos (enzimas que protegem de infeções e alergias), têm um efeito laxante e fornece fatores de crescimento que ajudam na maturação do intestino. Não o desperdice, o colostro é fundamental!
Após alguns dias, 1 a 4 dias, quando acontece a chamada “subida de leite” a mãe começa a produzir um leite uma maior quantidade de um leite mais branco e fluido, este é o leite maduro que vai alterar a sua composição ao longo do crescimento do bebé.

Constituição do leite maduro:

- 90% Água (suficiente para a hidratação do bebé);
- Proteínas: responsáveis pela defesa imunitária;
- Lípidos: importantes no desenvolvimento cerebral e ocular;
- Colesterol: essencial para desenvolvimento dos nervos e células;
- Glícidos: o principal açúcar do leite materno que confere sabor adocicado ao leite, fornece calorias e mantem a flora intestinal segura;
- Vitaminas.
 
Ao longo da mamada o leite materno também se vai alterando, fazendo uma analogia à alimentação do adulto, é como se o bebé comesse a entrada, o prato principal e a sobremesa. Sabia? Em primeiro lugar o bebé suga o leite anterior, mais azulado, produzido em maior quantidade e constituído por proteínas, lactose e grande quantidade de água: o pãozinho com manteiga seguido por um belo bife do lombo. No final, o leite posterior é mais branco e composto essencialmente por gordura que fornece ao bebé energia, permite manter a criança saciada mais tempo: uma fatia de bolo de chocolate deliciosa. Para atingir esta saciedade fornecida pelo leite posterior exige que o bebé mame até estar satisfeito numa mesma mama para que a possa esvaziar. Ainda há quem acredite que o bebé deve mamar 10 minutos em cada mama. Errado! Deve mamar numa mesma mama até estar satisfeito ou até a mama estar completamente vazia e aí sim pode oferecer a outra mama. Imagine o que é oferecer ao seu bebé duas entradas e parte do prato principal, privando-o de uma refeição completa, entrada, prato principal e sobremesa, depois de uma hora já estará a chorar com fome pois não terminou a sua refeição.

★★